Fotos: Arcângelo Libos
Texto original saído
na revista Alpha Report, ano 2, número 9, 2012
O grupinho de amigos curtia os últimos dias da temporada em St. Moritz, passado o movimento de fevereiro do mais seleto grupo de turistas do mundo inteiro - uma das tribos mais sofisticadas que a Suíça e a Europa recebem para os Sports d’Hiver. O pequeno vilarejo reassumia seu ar bucólico sob o sevéro e majestoso olhar dos Alpes e a serenidade de seu Lago.
Os brasileiros do grupo, ele, ex-banker, filho de uma longa linhagem de diplomatas e ela, ex-top model, capa da Vogue, hoje dedicada a escrever sobre culinária, com muito sucesso, para a alegria do paladar dos outros membros do pequeno grupo. Os ingleses: um dos publicitários mais festejados de sua época e sua mulher, arquiteta de renome.
Os outros três casais, todos também do who’s who internacional, fazem do
low-profile uma ciência. Os alemães, originários da Baviera: ele, descendente de uma família nobre da região, ex-CEO de uma conhecida fábrica de automóveis, e ela, sua ex-secretária, em segundas núpcias; um mogul do aço e o mais hiperativo do grupo, o indiano de Johdpur e sua linda mulher, ex-diva de Bollywood; e finalmente, Sua Alteza, o príncipe italiano, de uma das casas mais tradicionais de Nápoles, casado com a herdeira de uma fortuna industrial, nunca trabalhou. O mais divertido do grupo, sempre de bom humor - como não ficar de bom humor com esse histórico? - adora uma brincadeira e, principalmente, infernizar a vida de nossas duas chefs (a inglesa e a franco-brasileira) com receitas de pratos italianos, principalmente do Veneto, que insiste em incluir em ágapes quase diários, além de exigir que se prepare os pratos com azeite de oliva, manteiga nunca. Ah sim, um enólogo respeitado, porém, com um penchant quase permanente para o Cabernet-Sauvignon, uma insistência temerária diante da diversidade que se espera de um bom connaisseur.
O nosso pequeno grupo de amigos havia se conhecido ao longo dos anos, e,
como não se pode usar os seus nomes verdadeiros, vamos chamá-los apenas
de “nosso grupo de amigos”.
Reunidos no chalé do casal Bávaro, único a ter um pied-a-terre em St. Moritz – os outros, via de regra, se hospedam no Kulm ou alugam um chalé para a temporada – a pergunta era: e agora para onde vamos? Chega de montanhas, neve, Sports d’Hiver. Um pouco de sol e mar, St. Barts, Pukhet, Seychelles. Tem que ser algo tropical e sofisticado. A franco-brasileira pensou por instantes, levantou sua taça de bubbly e sentenciou: Paraty! Não demorou mais do que uma garrafa de Dom Perignon para convencer ao grupo.
Nem se preocupou em verificar o fuso horário e ligou para a sua amiga Isabelle, da Paraty4u. ‘Estamos chegando na bela Paraty. Quero uma casa com cinco suítes, de frente para o mar, com staff completo, um barco com tripulação, champanhe no gelo e informações de aterrissagem de um gulfstream no Aeroporto de Paraty. Ah sim, Isabelle, já pode fazer as compras para aquele café da manhã maravilhoso e quero uma refeição leve para a nossa chegada. Te mando uma receita’.
Paraty é o nome da cidade, e tem seu carma: para ti ou para você. A ideia é a mesma. Um local que atrai pessoas do mundo inteiro, de todos os estilos, nacionalidades e preferências. Hoje é palco para diversos festivais, como a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), que em julho deste ano celebra sua décima edição, o Bourbon Jazz Festival, o Paraty In Foco, Festival de Choro e Samba, além das festas tradicionais da cidade, que acontecem durante o ano todo.
A cidade de Paraty, no verão ou no inverno, faz todos se sentirem muito à vontade, seja para degustar uma saborosa cachaça em um dos alambiques de moinhos antigos, ou para um brinde de vinho tinto em jantares de alta gastronomia.
E além da diversidade gastronômica, tanto no centro histórico, nas casas de veraneio, quanto nas redondezas, em Paraty não se pode perder também os passeios de barco – em um belo iate, em uma simples baleeira tradicional ou em uma especial embarcação de madeira. Os passeios pela baía salgada expõem centenas de praias e ilhas, uma fauna e flora belíssimas e locais de pouco acesso pelos turistas – apenas alguns os conhecem, mas os que conhecem, adoram!
Pode-se admirar também, o Saco do Mamanguá, único fiorde do Brasil e o mais extenso da América Latina, ou aguardar os canoeiros e suas bandejinhas de ostras frescas para um aperitivo e sauvignon blanc ao lado da Ilha da Cotia.
Uma excelente pedida para um almoço de final de tarde é a prancha de frutos do mar, na Ilha do Catimbau.
E tem ainda mais, a cidade é toda cercada pela Mata Atlântica, repleta de água doce de seus rios e cachoeiras, adequada para uma volta a cavalo ou de jipe, pelo verde ou pela serra. O tradicional frango caipira, a farinha de mandioca da terra ou a rapadura com melado da cana é bem sugestivo para quem passar por esta cidade tão eclética.
A caminhada pelo Centro Histórico – sempre de chinelos baixos – não é desprezada nem pelos habitués, uma vez que o centro oferece exposições culturais, artesanatos indígenas e locais, e comprinhas de souvenir, ao som da música popular brasileira tocada ao vivo pelos artistas que lá se apresentam.
O nosso grupo de amigos já viajou muito pelo mundo, já desfilou no River Side em Londres, no Harry’s Bar em Paris para um bloody mary, no Blue Room do Algonquin em Manhattan, no Daniele em Veneza ou na Pensione Ripetta em Roma. Porém, mesmo com tantos carimbos nos passaportes, não acharam em nenhuma ponta do mapa um lugar tão charmoso e pitoresco como a pequena Paratyense - por isso, decidem ali comprar suas casas de veraneio. E, antes de retornarem a seus países, alugam suas propriedades para temporadas. São casarões, casas na praia, casas no Centro Histórico – para todos os gostos. Assim, o nosso grupo de amigos recria uma forma de perpetuar suas histórias e lembranças àqueles que por Paraty decidem se hospedar.
Outra bubbly, por favor. Daqui a uns dias, enfim Paraty.
Oi Paraty.