Páginas

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DINHO BAR


Em plena tamporada deste ano um dos ícones mais expressivos da bohemia de Paraty foi brutalmente terminado, sem dó nem pré aviso. O Fechamento do Dinho Bar deixou um vazio enorme e dezenas de orfãos da noite, que agora preambulam pelo Centro Histórico sem ter onde ir, encontrar os amigos ou se divetir como nunca se divertiram. No Dinho Bar em Paraty, por pouco, quase nada, podiam viver algumas das melhores baladas e sonhos como se estivessem em Ibiza ou no Caribe, até melhor na minha modesta experiencia. Parece futil, mas não é. Paraty é uma cidade de turismo, com um patrimonio historico e natural unicos que precisa de pessoas, que moram aqui ou que nos visitam para ter vida. Dinho Bar com uma longa história de encontro de pessoas que tinham de mais comum entre elas un grain de folie, era o ultimo bastião deste sentimento e vai deixar saudades. Tristemente me lembra fim do Rock and Roll, dos Hippies, da Disco e antes deles tantos outros movimentos sociais que pareciam loucos mas ficaram na nossa cultura para sempre. Não era o lugar em sí, nem a musica, nem a bebida eram as pessoas que não se juntam mais em nehum outro lugar em Paraty, não da mesmo forma.

Fisicamente o Dinho´s como era chamado não era grande coisa. Bem localizado no Centro Historico perto da Praça e ao lado do tradiconal Coupê, era passagem obrigatória de quem passeava pela cidade. Por fora, uma construção meio caida, com a arquitetura classica da Cidade, janelões grandes e uma porta para uma rua estreita e de pedras. Nos  dias de agite parecia um formigueiro de gente, esperando para entrar ou só fazendo um esquenta ou ainda algumas meninas esperando um convite. Por dentro mais parecia uma gruta, com iluminação difusa , moveis rusticos e pesados, dois balcões, uma cozinha aberta com forno de Pizza recém inaugurado. No fundo do salão , uma especie de palco onde tocava musicos de todo calibre. Os banheiros, ah os banheiros meus amigos, eram um capitulo a parte.Precisava muita coragem ou muita precisão para entrar nesses waters para não usar outras palavras. Eram simplesmente um assinte. E no fundo ainda, perto dos waters os apartamentos do Dinho onde poucos entravam , em geral só mulheres , nunca as mesma e sempre a convite do dono e por pouco tempo.
Os frequentadores, estes sim merecedores de um estudo sociologico especial para analisar os efeitos da miscigenação das classes sociais em abiente propício. La se juntavam a jeunesse dorée paulistana as deusas cariocas e seus garotos surfistas, a elite local e visitante, as piriguetes da cidade ou turistas, backpackers do mundo inteiro, lindas nordicas e rapazes chamados de gringos, sonho das meninas de Paraty que muitas vezes eram levadas para casar em terras distantes voltando alguns anos mais tarde com lindas crianças loirinhas e falando idiomas estrangeiros como Noruegês, Alemão, Francês e principalmente Italiano. Ja os toy boys partiam para o Reino Unido e o Rio de Janeiro.
Não havia barreira de idade, sexo, côr, religião ou principalmente tribus e muito menos pudor social. Quem estava no Dinho´s era in naquela noite, naquele momento, e não importava se um era empregado do outro, marinheiro e dono de embarcação, garçom e dono de restaurante ou pousada ou ainda piloto e dono de aeronave. Isto sim era socialismo, o resto, como todo mundo sabe é pura balela. O resultado desta mistura fina era que todo mundo se comportava de forma livre e espontânea, se soltava ou ainda em alguns casos soltavam a franga, sem um regard de reproche ou de julgamento por parte dos outros. Falava-se todas as linguas do mundo, todos os sotaques e girias do Brasil, dancava-se todos os ritmos conhecidos e alguns até desconhecidos a um som tocado por conjuntos de musica ou ainda DJ´s, alguns bons e outros nem tanto, o que não mudava nada. As vezes a noite era tranquila, e podia até ser num fim de semana, as vezes podia se deslanchar as maiores loucuras em plena segunda-feira, ninguem sabia quando nem porque, se era algum alinhamento estelar ou qualquer outro fenomeno inexplicável. Em alguns casos o frenesi se transformava em cenas felinianas digno do saudoso Dama da Noite.
Quantas vezes passei rapidamente pelo Dinho´s para um drink vite fait para acordar no dia seguinte em alguma embarcação desconhecida junto a pessoas mas desconhecidas ainda. Sem duvida o maior cliente do Dinho´s era o proprio Dinho, que com a ajuda de seus fieis escudeiros, dois garçons/barmen , um cozinheiro Italiano e um leão de chacara/Surfista, tocava o estabelecimento de forma a ser quem mais se divertia nele. Ele estava em todas, atras do balcão, servindo mesas, dançando freneticamente ou ainda chavecando uma gringa na sua propria lingua com o uso linguistico multinacional que ele fazia com as mãos. Via de regra levava a presa para o seu veleiro vintage Herreshoff e se valesse a pena, a moçinha ganhava um estagio no Dinho´s Bar.
Olha gente, parece exagero de minha parte mas falando sério, para este velho leão, o Dinho Bar merece um lugar no Panteão dos melhores do mundo, dos que eu conhecí, Studio 54 em Manhatan, João Sebastião Bar e Hippopotamos em São Paulo, Black Horse e Jirau no Rio de Janeiro, Pacha em Ibiza, Chez Regine e le Sept em Paris alem do Anabells em Londres e o Pedras em Lisboa. Para mim o Dinho Bar foi um dos lugares mais divertidos do mundo, mais exotico, mais autentico e onde melhor me sentí.
Merci Dinho.

ELSA MAXWELL



A Elsa Maxwell foi um personagem imponente na época aurea do Jet Set Internacional. Nada acontecia no circuito Elisabeth Arden, Paris, Londres, Roma ou Nova York sem a sua marca se fazer sentir. Uma festa sem ela simplesmente não era uma festa. Não havia uma coluna social digna deste nome no mundo que não reportasse as suas andanças, comentários, as vezes acídos, ela fazia e desfazia reputações sociais com umas poucas palavras. A prima donna do colunismo social.

Depois de alguns anos fora do cenario internacional eis que a Elsa Maxwell reaparece em Paraty na figura mais singular e interessante que esta cidade ja viu. Habitando num dos casarões mais lindos do Centro Historico, mais precisamente na rua Dona Geralda, esta linda figura longelinea, falando Português com um charmoso sotaque Francês, sua nacionalidade formal, a Brasileirissima senhora, comanda magistralmente a comunidade expat de Paraty, transformando sua linda casa no salon mais concorrido da cidade.

Os seus antológicos jantares ja viraram o evento mais disputado por aqui. Ser convidado ou não a estes ágapes se traduz no status social de seus participes. Longe de qualquer esnobismo a lista de convivas segue uma logica que traduz muito bem o espirito de Paraty, gente diferente, desde a suas linguas, origens, classe social ou atividade. O critério é sempre ser interessante, ter algo a dizer e saber se comportar à mesa. Levando o ritual do jantar ou almoço a mescla de formalidade com lindas decorações de mesas, menus exepcionais e vinhos de boa cepa, esta linda mulher além de ser chef escreve sobre culinária tanto no Brasil como na França. Ah sim, os horarios destes eventos gastronômicos segue o critério Europeu de horário, hora do almoço é hora de almoço, jantar e na hora do jantar, nada de brasilidades neste quesito. Deixo de comentar os ágapes por falta absoluta de palavras para descrever os pratos mais deliciosos que ja tive a oportunidade de degustar. Desde cozinha caiçara até sofisticados pratos da cozinha Francesa passando pela Marroquina entre tantas outras. Uma experiencia rara em sí só.

Ex Top Model e Diva Social em Paris e no Rio de Janeiro, a nossa querida amiga tem uma rede social enorme, e nem usa Facebook, aliás só telefone fixo e um iPad para ler parcos e-mails, nada de celular. Adora sair de barco na baia de Paraty, onde ela convida o seus amigos, Paratyenses, estrangeiros moradores desta cidade e visitantes de fora, que fazem romaria a sua casa quando aqui passam. Pessoas famosa, beautifull people, empresários, artistas, fotografos, gente da moda, name it e ela conhece os mais famosos com uma rara intimidade. O seu marido, conhecido antiquário e arquiteto com uma galeria perto do Louvre, figura meio Vielle France só complementa com a sua magnifica presença e jeito bem Europeu de ser, a nossa querida Elsa Maxwell de Paraty. Morando em Paris frente ao rio Sena no quartier de Saint Germain, escapa á Paraty sempre que pode entre compromissos na Europa ou em Nova York.

Desde que tomou a decisão de morar em Paraty, a nossa nova amiga, comanda o cenário social, seja em jantares ou festas, que ela organiza ou onde ela é convidada. No seu aniversário, comemorado com jantar sentado svp e um DJ, foi um dos acontecimentos mais comentados nos ultimos tempos por aqui. Muitas vezes ela organiza festas para seus amigos, de São Paulo, Rio ou Paris, em seu próprio casarão ou em outros lugares no Centro que ela chama de Histérico.

Recentemente começou a organizar um Festival de tribus indigenas Brasileiras a ser realizado em Paraty com presença de varias tribus da região e do Brasil. Este evento já conta com o apoio da UNESCO e promete ser mais uma sucesso para a nossa querida Paraty. A nossa Elsa Maxwell forma e comanda o novo grupo de moradores desta cidade e inspirar outros no Brasil e no mundo a nos visitar ou até em morar aqui. É a nossa inspiração.

DOM JOÃO

Foi nos anos setenta acho, sentados para um drink no bar da Pousada do Ouro com Americo que conhecí Dom João, Sua Alteza Dom João de Orleans e Bragança para ser mais formal. O Americo e Dom João eram amigos de longa data , tinham servidos como pilotos da FAB durante a Segunda Guerra Mundial fazendo patrulhas na costa Brasileira a bordo dos famosos Catalinas. Não era o primeiro Principe que conhecía, tendo nascido em uma monarquia , o encontro não era tão exepcional. O que era marquante no entanto era a personalidade do Principe, absolutamente encantador, de uma simplicidade classica de membros de familias reais para quem os conhece, com um ligeiro sotaque Francês, elegante na sua postura, conhecedor de Paraty como ninguem, dizem que descobriu a cidade quando aterissou por acaso no nosso pequeno aeroporto por causa de uma pane.
Como sempre quando o Americo estava por perto, a conversa girava em torno de culinária e bebidas. Quais os peixes que se encontravam na peixaria, verduras, legumes, frutas e who was in town . A casinha do Americo na rua Fresca ao lado da Capelinha era o palco de longos agapes regados a caipirinhas, whisky e é claro Vinho Portugês, nem pensar em outros. O Principe nos contou de suas dificuldades na produção de cachaça , a qualidade que ele queria impor para merecer o seu nome na etiqueta, me prometeu uma garafa e me surprendeu ao me contar que sua primeira mulher, mãe de seu filho, hoje meu querido amigo Joãozinho, tinha como eu, nascido no Cairo, o que levou a conversa ao eventos que aboliram a Monarquia do Egito com o Rei Faruk I, a gastronomia Arabe e suas variações, Egipcia mais camponesa, Libanesa mais sofisticada e coisa e tal.
A uma certa altura o Americo, no seu enésimo drink, acho que era um Gin and Tonic, primeiro uma dose e meia de Gordon´s, depois o gêlo, aí a agua tônica, natural jamais gelada e finalmente uma gota de Angostura (tempêro de ervas do Mexico), rodela de limão era frescura qualquer outra coisa não era Gin Tonic segundo o Americo, como dizia a uma certa altura o Americo começou a se queixar do estado do Aeroporto de Paraty , que merecia mais atenção, que o turismo , que varios amigos dele haviam se queixado, as estradas de acesso, Paraty-Cunha era o que é ainda hoje e a Rio-Santos ainda não estava totalmente pronta, naquela época. Sera que o Principe não poderia ajudar, afinal ele tinha voado com um outro Piloto da FAB durante a Guerra que hoje era Ministro da Aeronautica. Parece até que Dom João tinha sido seu instrutor de võo.
O nosso Principe se colocou a disposição, tudo para Paraty que ele adorava , tinha uma linda casa na rua Fresca que ainda hoje é da familia, fazendas, o Alambique e pensava em construir uma Pousada, hoje a Pousada do Principe. Assim ficou, voltamos um tanto quanto adernados e felizes, o Principe para a sua casa atras da Pousada do Ouro, o Americo e eu em direção a casa da Capelinha para uma feijoada deliciosa como sempre, onde nos esperava a Janet sua mulher e alguns amigos.
Passado algum tempo recebo um telefonema do Americo me dizendo que Dom João ja havia conseguido uma Audiencia com o Brigageiro Délio, então Ministro da Aeronautica, no Rio de Janeiro. Eles ficariam muito agradecidos se eu pudesse acompanhar para explicar ao Ministro a importância do pequeno Aeroporto de Paraty para o Turismo da Região, usando a minha linguagem empresarial. Aceitei o convite, ja começava a gostar de Paraty e nunca é demais dar uma força quando se pode. O encontro com Dom João tinha sido marcado no restaurante 14 Bis, no Aeroporto Santos Dumont, perto do Predio do Ministerio da Aeronatica no Rio onde a Audiencia nos sera concedida.
O encontro aconteceu como previsto com uma pequena modificação, foi no bar do 14 Bis, o que com o Americo não era nehuma surpresa.Todos alí pontualmente, embrulhados para presente, elegantes em seus ternos e ar muito sério. Na hora da saida o Americo, que se dizia comunista achou melhor ficar nos esperando, pequeno detalhe que me fez rir e ainda me diverte muito. O Americo Marques da Costa comunista! Nimporte quoi, um dos maiores bon vivants que eu havia conhecido, reinava socialmente no eixo São Paulo-Rio e tratava Dom João com uma deferência toda especial que so podia se justificar pelo lado Português tão forte no Americo, afinal Dom João era descendente direto dos Reis de Portugual e do Brasil e isso até um comunista como o Americo levava em conta.
A nossa caminhada entre o Aeroporto Santos Dumont e o Prédio do Ministério da Aeronautica durou poucos minutos, ao chegar lá, o Oficial de Guarda, naquele dia uma linda Tenente no seu uniforme impecável, nos pediu o motivo de nossa visita, segue o dialogo, entre Dom João e a tenente da FAB :
- Boa tarrrde Tenente, o sotaque Francês do Principe se fazia notar, naquela tarde. Temos uma audiencia com o Brigadeiro Délio.
- Boa tarde, seus documentos por favor.
Entreguei a minha RG e o Principe surprendido por uma solicitação tão estranha e sem dizer uma palavra, tira de seu bolso um monte de xerox meio queimadas e as entrega a Tenente que não conseguindo ler nada pergunta ao principe :
- Seu Nome por Favor:
- Coronel Dom João de Orleans e Bragança, o seu sotaque Francês ficando cada vez mais notado ao se irritar discretamente.
A Tenente: Coronel do que?
O Principe : da Força Aérea.
A Tenente : De que Força Aérea ?
Nesta altura pensei que Dom João ia sofrer uma síncope, manteve a calma e  respondeu, noblesse oblige :
Da Força Aérea Brasileira - por algum milagre, notei que não havia mais nehum sotaque nesta afirmação pelo contrario Dom João havia se postado como oficial superior se dirigindo a um subalterno atrevido.
A esta altura, um Major que estava por perto percebeu a gafe e, batendo continência a Dom João pediu por favor para que o "Coronel " e seu amigo os acompanhassem até o gabinete do Ministro. Chegando na ante sala do Ministro um outro oficial nos pediu para aguardar no pequeno salão de espera, oferecendo café e agua. Percebia-se que a historia tinha se alastrado pelo prédio ja que as pessoas que passavam por ai nos olhavam com um misto de curiosidade e respeito por Dom João.
Poucos minutos depois o proprio Brigadeiro Delio abriu pessoalmente a porta de seu gabinete obviamente sabendo do acontecido, ajoelhou-se com uma largo sorriso na frente de Dom João levantando a sua mão como se fosse beija-la e disse , "Vossa Alteza Imperial ! Aqui neste meu modesto gabinete". Depois das gargalhadas e abraços entre os velhos amigos, o Principe me apresentou ao Ministro que me disse :
"Voce ja conheceu um Principe que fabrica cachaça" ? E riu acompanhado por todos os que se encontravam ali, o Brigadeiro Délio fazendo jus a sua fama de brincalhao.
Contei este episódio ao Joãozinho, filho de Dom João, que não conhecia esta anédota e se divertiu muito com este acontecimento, que alem de ter ajudado a melhorar o pequeno Aeroporto de Paraty, deixou uma história divertida a ser contada sobre Dom João e Americo. 
Dom João de Orleans e Bragança