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quinta-feira, 5 de abril de 2012

DOM JOÃO

Foi nos anos setenta acho, sentados para um drink no bar da Pousada do Ouro com Americo que conhecí Dom João, Sua Alteza Dom João de Orleans e Bragança para ser mais formal. O Americo e Dom João eram amigos de longa data , tinham servidos como pilotos da FAB durante a Segunda Guerra Mundial fazendo patrulhas na costa Brasileira a bordo dos famosos Catalinas. Não era o primeiro Principe que conhecía, tendo nascido em uma monarquia , o encontro não era tão exepcional. O que era marquante no entanto era a personalidade do Principe, absolutamente encantador, de uma simplicidade classica de membros de familias reais para quem os conhece, com um ligeiro sotaque Francês, elegante na sua postura, conhecedor de Paraty como ninguem, dizem que descobriu a cidade quando aterissou por acaso no nosso pequeno aeroporto por causa de uma pane.
Como sempre quando o Americo estava por perto, a conversa girava em torno de culinária e bebidas. Quais os peixes que se encontravam na peixaria, verduras, legumes, frutas e who was in town . A casinha do Americo na rua Fresca ao lado da Capelinha era o palco de longos agapes regados a caipirinhas, whisky e é claro Vinho Portugês, nem pensar em outros. O Principe nos contou de suas dificuldades na produção de cachaça , a qualidade que ele queria impor para merecer o seu nome na etiqueta, me prometeu uma garafa e me surprendeu ao me contar que sua primeira mulher, mãe de seu filho, hoje meu querido amigo Joãozinho, tinha como eu, nascido no Cairo, o que levou a conversa ao eventos que aboliram a Monarquia do Egito com o Rei Faruk I, a gastronomia Arabe e suas variações, Egipcia mais camponesa, Libanesa mais sofisticada e coisa e tal.
A uma certa altura o Americo, no seu enésimo drink, acho que era um Gin and Tonic, primeiro uma dose e meia de Gordon´s, depois o gêlo, aí a agua tônica, natural jamais gelada e finalmente uma gota de Angostura (tempêro de ervas do Mexico), rodela de limão era frescura qualquer outra coisa não era Gin Tonic segundo o Americo, como dizia a uma certa altura o Americo começou a se queixar do estado do Aeroporto de Paraty , que merecia mais atenção, que o turismo , que varios amigos dele haviam se queixado, as estradas de acesso, Paraty-Cunha era o que é ainda hoje e a Rio-Santos ainda não estava totalmente pronta, naquela época. Sera que o Principe não poderia ajudar, afinal ele tinha voado com um outro Piloto da FAB durante a Guerra que hoje era Ministro da Aeronautica. Parece até que Dom João tinha sido seu instrutor de võo.
O nosso Principe se colocou a disposição, tudo para Paraty que ele adorava , tinha uma linda casa na rua Fresca que ainda hoje é da familia, fazendas, o Alambique e pensava em construir uma Pousada, hoje a Pousada do Principe. Assim ficou, voltamos um tanto quanto adernados e felizes, o Principe para a sua casa atras da Pousada do Ouro, o Americo e eu em direção a casa da Capelinha para uma feijoada deliciosa como sempre, onde nos esperava a Janet sua mulher e alguns amigos.
Passado algum tempo recebo um telefonema do Americo me dizendo que Dom João ja havia conseguido uma Audiencia com o Brigageiro Délio, então Ministro da Aeronautica, no Rio de Janeiro. Eles ficariam muito agradecidos se eu pudesse acompanhar para explicar ao Ministro a importância do pequeno Aeroporto de Paraty para o Turismo da Região, usando a minha linguagem empresarial. Aceitei o convite, ja começava a gostar de Paraty e nunca é demais dar uma força quando se pode. O encontro com Dom João tinha sido marcado no restaurante 14 Bis, no Aeroporto Santos Dumont, perto do Predio do Ministerio da Aeronatica no Rio onde a Audiencia nos sera concedida.
O encontro aconteceu como previsto com uma pequena modificação, foi no bar do 14 Bis, o que com o Americo não era nehuma surpresa.Todos alí pontualmente, embrulhados para presente, elegantes em seus ternos e ar muito sério. Na hora da saida o Americo, que se dizia comunista achou melhor ficar nos esperando, pequeno detalhe que me fez rir e ainda me diverte muito. O Americo Marques da Costa comunista! Nimporte quoi, um dos maiores bon vivants que eu havia conhecido, reinava socialmente no eixo São Paulo-Rio e tratava Dom João com uma deferência toda especial que so podia se justificar pelo lado Português tão forte no Americo, afinal Dom João era descendente direto dos Reis de Portugual e do Brasil e isso até um comunista como o Americo levava em conta.
A nossa caminhada entre o Aeroporto Santos Dumont e o Prédio do Ministério da Aeronautica durou poucos minutos, ao chegar lá, o Oficial de Guarda, naquele dia uma linda Tenente no seu uniforme impecável, nos pediu o motivo de nossa visita, segue o dialogo, entre Dom João e a tenente da FAB :
- Boa tarrrde Tenente, o sotaque Francês do Principe se fazia notar, naquela tarde. Temos uma audiencia com o Brigadeiro Délio.
- Boa tarde, seus documentos por favor.
Entreguei a minha RG e o Principe surprendido por uma solicitação tão estranha e sem dizer uma palavra, tira de seu bolso um monte de xerox meio queimadas e as entrega a Tenente que não conseguindo ler nada pergunta ao principe :
- Seu Nome por Favor:
- Coronel Dom João de Orleans e Bragança, o seu sotaque Francês ficando cada vez mais notado ao se irritar discretamente.
A Tenente: Coronel do que?
O Principe : da Força Aérea.
A Tenente : De que Força Aérea ?
Nesta altura pensei que Dom João ia sofrer uma síncope, manteve a calma e  respondeu, noblesse oblige :
Da Força Aérea Brasileira - por algum milagre, notei que não havia mais nehum sotaque nesta afirmação pelo contrario Dom João havia se postado como oficial superior se dirigindo a um subalterno atrevido.
A esta altura, um Major que estava por perto percebeu a gafe e, batendo continência a Dom João pediu por favor para que o "Coronel " e seu amigo os acompanhassem até o gabinete do Ministro. Chegando na ante sala do Ministro um outro oficial nos pediu para aguardar no pequeno salão de espera, oferecendo café e agua. Percebia-se que a historia tinha se alastrado pelo prédio ja que as pessoas que passavam por ai nos olhavam com um misto de curiosidade e respeito por Dom João.
Poucos minutos depois o proprio Brigadeiro Delio abriu pessoalmente a porta de seu gabinete obviamente sabendo do acontecido, ajoelhou-se com uma largo sorriso na frente de Dom João levantando a sua mão como se fosse beija-la e disse , "Vossa Alteza Imperial ! Aqui neste meu modesto gabinete". Depois das gargalhadas e abraços entre os velhos amigos, o Principe me apresentou ao Ministro que me disse :
"Voce ja conheceu um Principe que fabrica cachaça" ? E riu acompanhado por todos os que se encontravam ali, o Brigadeiro Délio fazendo jus a sua fama de brincalhao.
Contei este episódio ao Joãozinho, filho de Dom João, que não conhecia esta anédota e se divertiu muito com este acontecimento, que alem de ter ajudado a melhorar o pequeno Aeroporto de Paraty, deixou uma história divertida a ser contada sobre Dom João e Americo. 
Dom João de Orleans e Bragança


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